Glossário
Este Glossário é uma proposta de organização das tipologias implantadas em/no Espaço Público. Desenvolvido na decorrência do projecto “Neo-Topografia (…)”, não se pretende criar uma nova taxonomia antes incitar à problematização e discussão/troca de opiniões quanto a como e de modo se poderão enquadrar e analisar – potencialmente todos – os existências, com ou sem intencionalidade artística, que são passíveis de integrar este conjunto de existências em/no Espaço Público.
Considera-se, para efeitos globais, que todos os elementos enquadráveis em qualquer uma destas tipologias, serão potencialmente Monumentos ou Memoriais – na senda da definição de Arthur DANTO, que orientou este projecto desde o início. No entanto, são as tipologias “Estatuária” e “Bustos” as que melhor correspondem ao que perceptivamente, e de modo convencional, se aceita e estabelece como Monumento/Memorial.
Arte Comunitária
“A arte comunitária é a criação de arte como direito humano, por artistas profissionais e por não-profissionais, que cooperam entre iguais, para propósitos e com padrões estabelecidos em conjunto, e cujos processos, produtos e resultados não podem ser conhecidos antecipadamente.”
(MATARASSO, François – “Uma Arte Irrequieta”. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2019. P. 56.)
Bustos
Sobre pedestal, coluna, ou outro suporte auto-portante, tal como a estatuária, constituem referências, realistas ou idealizadas, a personagens ou personalidades, representando a parte superior do corpo humano, surgindo com maior frequência o torso sem braços, ou apenas a cabeça, do/da representado/a.
Composições
Especificamente surgem como associação de módulos destinados à criação de uma estrutura artística ou memorativa de grandes dimensões. Não se trata de conjuntos escultóricos no sentido convencional uma vez que, no caso desta definição, o processo resulta numa soma de componentes tendentes a um elemento unitário, ao invés da adição de distintos elementos que marquem ou definam uma paisagem unívoca.
Estatuária
A tipologia formal mais imediata no que concerne à leitura “monumental”. Genericamente aposta sobre pedestal, base, coluna, ou outro suporte auto-portante, permite, pela emulação da figura humana isolada ou constituindo conjunto escultórico agrupado em torno à figura principal (ou ao suporte), uma referência imediata – realista ou idealizada – quanto a personagens ou personalidades, representando-se a totalidade do corpo (em que o posicionamento e a inclusão, ou ausência, de movimento, pretende reflectir um cariz quer mobilizador quer moralizador). Na estatuária, mais do que em qualquer outra possível tipologia formal monumental, a representação traz consigo a premissa de constituição de um modelo comportamental para a comunidade em que se insere.
Por vezes surge(m) acompanhada(s) de figurações não-humanas que traduzem similares considerações interpretativas. Menos comum é apenas a representação de figura não humana, isolada ou em conjunto escultórico.
Estruturas Autónomas
Elementos que se implantam no espaço público, com uma intenção eminentemente artística, sem necessitar de qualquer outro suporte ou sustentação estrutural para lá da que o que o próprio elemento em si contenha ou presuma. Dir-se-á de qualquer “escultura” que não memorativa, por exemplo.
Estruturas Sustentadas
Elementos que se implantem no espaço público, com uma intenção eminentemente artística, sendo concebidos para, e agregados a, um suporte vertical. Próximo aos conceitos de arte aplicada ou arte adossada, valoriza-se o elemento (ou conjunto de elementos) como potencial existência singular, uma vez que o enfoque dado não se atém ao suporte – edifício ou muro especificamente criado para o efeito – antes ao elemento artístico em si.
Glíptica [Marcos e Padrões]
Elementos implantados no espaço público no âmbito de uma comemoração, circunscrição ou apelo ideológico, sendo que se apresentam auto-portantes e verticalizados na configuração formal. Cariz distintivo é o ser uma tipologia de produção alargada (múltiplos elementos de igual traça com ou sem pequenas adaptações para cada um dos elementos individuais) e disseminada territorialmente.
Glíptica [Medalhões e Epígrafes]
Por norma assumem-se como inscrição ou conjunto de inscrições em que consta a entidade ou representante da entidade promotora da ocasião; sendo a inscrição e a identificação do promotor a condição essencial para a definição da tipologia em si. São elementos implantados no espaço público no âmbito de uma comemoração, circunscrição, apelo ideológico, ou ainda por via de homenagem prestada ou inauguração pública. Apresentam-se adossados a construção pré-existente ou aplicados a suporte próprio. São referentes que, embora possam replicar outros modelos ou formalismos, se criam especificamente para uma ocasião e, por esse motivo, são únicos ao invés de múltiplos.
Mobiliário Urbano
Elementos isolados ou em conjunto, implantados no Espaço Público, que assumam configuração primordialmente utilitária, ainda que patenteando componente memorativa ou artística relevante. Assume-se um elemento desta tipologia quando a função e utilização inicialmente previstas são o definidor da forma e da aplicação de qualquer vertente/componente decorativa, mesmo quando com o decorrer da passagem do tempo essa função/utilização se perde ou é impossibilitada; e igualmente, mesmo quando a componente artística ultrapassa a leitura da vertente funcional inicial.
Monumentos Diferidos
Traduzem a implantação de um elemento de quotidiano (de cariz técnico ou arquitectónico; sempre funcional), assumidamente com traços ou características do elemento Monumento, ainda que sem a obrigatoriedade do rigor de uma conservação museística, que a manutenção por outros meios acarretaria. Prefiguram marcadores topográficos associados quer ao local quer à actividade adstrita àquela espacialidade, por parte de uma instituição, podendo ainda configurar uma recepção de materiais de grande porte que se expõem em via pública pelo seu contributo ao definir do próprio espaço público, em sentido lato.
Monumentos Espontâneos
Na sequência da definição de José Cirillo, Monumentos Espontâneos equivalerão à génese do que Alois Riegl incluiria em Monumentos Não-Intencionais, ou seja, aqueles em que não se faria corresponder, na origem, nem o carácter nem o significado de Monumento, mas aos quais o “actor” moderno lhes conferiria esse valor. Nesta configuração concreta, reflectem marcadores públicos sobretudo de iniciativa privada, não compostos com intenção de monumentalizar, ainda que trazendo consigo a materialidade da intenção de perdurar.
[Estruturas] Não-Perenes
Quaisquer elementos apostos no Espaço Público, seja com intencionalidade artística ou memorativa (ainda que sobretudo referentes ao primeiro dos casos), que assumam e sejam considerados aquando da própria aposição, como potencialmente degradáveis ou, por outras palavras, destinados a não manter a sua forma e leitura global inicial durante o período de exposição/manutenção.
[Estruturas] Temporárias
Quaisquer elementos que, implantados no Espaço Público, o sejam com uma temporalidade delimitada, ainda que presumindo-se a salvaguarda da forma e leitura originais durante o período de exposição/manutenção.